A consultora Deloitte, administradora do concurso de credores da Pescanova, estima que o 'buraco' patrimonial da Pescanova é de 1.667 milhões de euros e considera que a empresa ocultou contas e realizou operações fictícias.

O relatório, hoje divulgado por alguma imprensa espanhola, é o primeiro retrato independente do estado da empresa com sede na Galiza e que, segundo a Deloitte, acumula um passivo que, a 30 de abril, era de 3.674 milhões de euros.
O ativo da empresa, refere o relatório, era na mesma data de 2.007 milhões de euros pelo que o 'buraco' patrimonial é muito superior ao estimado pela consultora KPMG, a 31 de dezembro do ano passado, em torno aos 927 milhões de euros.
A Deloitte refere ainda que a Pescanova tem estado a operar através de diversas sociedades, registando nos seus estados financeiros receitas e despesas que não correspondem a operações comerciais reais, realizadas com objetivo de obter financiamento através do desconto comercial de faturas.
Especificamente, o relatório diz que a empresa galega declarou em 2011 e 2012 vendas de 625,84 e 703,34 milhões de euros, das quais respetivamente 77% e 80% eram fictícias, ou seja feitas através dessas sociedades “instrumentais”.
Nesses dois anos, a Pescanova comunicou um total de vendas de 1.047 milhões de euros à Comissão Nacional do Mercado de Valores espanhola (CNMV) refere o relatório, considerando que essa era uma prática comum da empresa.
A Pescanova emitia faturas a essas empresas que, posteriormente, eram apresentadas em entidades financeiras como contrapartida para obter depósitos em contas correntes.
Toda esta operação era feita com um conjunto de transações em que “não existia troca de mercadoria real” e que além de gerar financiamento bancária levaram a resultados contabilísticos não reais nos registos da empresa, refere a Deloitte citando análises da KPMG.
O relatório refere que a empresa tem 151 filiais das quais cinco estão envolvidas em vários processos concursais: Pesca Chile, Argenova, Pescanova Brasil, Acuinova e Pescanfina.
A Pescanova tem, segundo o relatório, contas por cobrar (saldos financeiros e comerciais) com empresas do grupo no total de 1.559 milhões, que a Deloitte avalia entre 597,88 milhões - em função da capacidade de geração de dinheiro das diferentes sociedades do grupo – e os citados 1.559 milhões, com base no valor líquido contabilístico registado.
Tem depósitos em 15 bancos de 7,22 milhões de euros e contas descobertas de 72,91 milhões que, segundo Deloitte, deveriam estar classificados como dívida com entidades bancárias e não no capítulo da tesouraria.
O relatório, que será central na reunião do Conselho de Administração marcado para 12 de setembro, revela ainda que a contabilidade da empresa apresenta vários erros e irregularidades incluindo a ocultação de dívida financeira, compras e vendas irregulares ou a não contabilização de gastos financeiros.
Por isso, considera a consultora, a Pescanova não cumpriu "o requisito de manter a sua contabilidade ordenada, adequada à atividade da sua empresa, para permitir um seguimento cronológicos de todas as suas operações".
A empresa não cumpriu o seu dever de elaborar balanços e inventários de forma periódica nem registou diariamente todas as operações relacionadas com a atividade da empresa.
Para que a empresa sobreviva, considera a Deloitte, é necessário um novo convénio de credores e uma reestruturação da empresa que passe tanto por vendas de ativos como pela reorganização do negócio.
Conseguir resolver os problemas da empresa requer, segundo o relatório, redimensionar os créditos e a “venda ou reorganização de certas unidades produtivas que não sejam essenciais para o negócio no futuro”.
No estudo, a Deloitte refere não ter recebido ainda “qualquer tipo de proposta que considere a viabilidade patrimonial da sociedade ou do Grupo”, mas regista o interesse de vários grupos com potenciais soluções para a empresa.
Dinheiro Digital com Lusa
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