Fonte: http://www.oje.pt/
13/11/13
A Sonae Sierra é o grupo português com maior presença no continente africano na gestão de centros comerciais. Na Argélia, já leva a dianteira. A sul do Sahara é o grupo francês Carrefour, número dois a nível mundial, que domina. Mas há especificidades e riscos locais que nem todos os grandes intervenientes estão preparados para enfrentar.
Em África, encontram-se em projeto 129 complexos de retalho comercial, revelam os mais recentes dados da Sagaci Research, um escritório de pesquisa de informação económica. Este ambiente de consumo de novos espaços comerciais, diz a mesma fonte, "é alimentado pela emergência de uma classe média africana". Nas 18 principais cidades de África, o nível de consumo chegará aos 1300 milhões de dólares (963,4 milhões de euros) por ano em 2030, contra um orçamento de 539 milhões de dólares (399,5 milhões de euros) consumidos atualmente em França, afirma Michael Chu'di Ejekam, diretor da área de imobiliário no fundo de investimento Actis, um dos maiores promotores/construtores ao sul do Sahara. Em todo o continente, a taxa de penetração da distribuição moderna é tão baixa que o mercado deixa espaço para um largo número de intervenientes. Em grande parte dos países africanos o número de habitantes clientes das grandes superfícies não chega aos 5%.
Grandes riscosMas o setor começa a mexer. O "boom" especulativo que ocorreu no Quénia ao longo dos últimos 15 anos é um dos exemplos avançados pelos especialistas. O site Jeune Afrique destaca as operações da Sonae Sierra na zona do Magrebe e as do Carrefour a sul do Sahara. O grupo francês concluiu acordos com o grupo pan-africano de distribuição especializado CFAO para os países da África ocidental e central; e poderá vir a expandir-se no continente, associado aos parceiros para o Médio Oriente, o grupo Majid Al Futtaim, de acordo com uma fonte não identificada citada pelo mesmo site.
No entanto o setor não vive apenas de sucessos, também há desastres. Entre os "flops" mais conhecidos está a precipitação do grupo Auchan no mercado marroquino em 2007, seguido do falhanço no centro comercial Les 4C, em Dakar, no Senegal. Ou ainda o exemplo do Carrefour na Argélia, de onde saiu apenas três anos após a entrada. "Este é um negócio muito complicado, que tem grandes riscos", diz Mohamed Ali Mabrouk, presidente do grupo de retalho com o mesmo nome que se dedica à grande distribuição, gerindo 60 supermercados, três hipermercados na Tunísia, além de que é parceiro da retalhista Casino no mercado tunisino.
Existem problemas de segurança do aprovisionamento, pois o cliente espera que seja possível encontrar tudo numa grande superfície. Aprovisionamento aqui significa importações. A situação da Tunísia, de Marrocos, do Quénia e da África do Sul é diferente da de outros países, pois nestas geografias existe produção agroindustrial. Por exemplo, na Costa do Marfim cerca de 40% do consumo resulta de importação, e na República do Congo as importações ascendem a 80% das necessidades dos consumidores. Nesta linha, o diretor internacional da área alimentar do grupo Mercure, que atua em sistema de franchising para a Casino em vários países, afirmou ao Jeune Afrique que a sua "primeira preocupação não é o preço mas conseguir o produto", registando, por exemplo, o tempo de transporte que é necessário até o pedido chegar ao Senegal.
Por outro lado, a questão fiscal dificilmente deixará "democratizar" o consumo nos países africanos. Os direitos alfandegários na Comunidade Económica e Monetária da África Central são de 30% e chega aos 20% na União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), a par de taxa de IVA, que oscila entre os 18% e os 19%. Julien Garcier, diretor-geral da Sagaci Research, afirma "ser nítido que as grandes superfícies, sobretudo as que têm uma marca internacional, continuarão a estar vocacionadas para os ricos", e adianta que os vendedores de rua vão continuar muito ativos, pois não suportam quase nenhuns custos e não pagam impostos.
Potencial para duplicar em quatro anosO continente africano, excluindo a África do Sul, tem 211 centros comerciais, afirma o grupo de estudos económicos Sagaci Research.
Ao longo dos próximos quatro anos a expectativa é que a área bruta locável possa duplicar. Atualmente a área de implantação destes espaços atinge os 4 milhões de m2, e cerca de um terço dos espaços comerciais estão no norte de África. A Sagaci Research faz um rating dos centros comerciais, atribuindo a melhor classificação, "triple A", aos espaços comerciais no Egito e em Marrocos. Dentro da classificação "AA" estão centros no Senegal, na Costa do Marfim, na Nigéria e no Quénia.
Em termos de grandes marcas, na África do norte e ocidental há insígnias europeias e norte-americanas com forte presença, como é o caso da Adidas, da Aldo, a Bata, a Celio, a City Sport, Etam, KFC, Mango ou Nike. Na África austral e do leste estão marcas sul-africanas de armazéns como a Mr Price, a ShopRite, a Truworths ou a Woolworths.
Sem comentários:
Enviar um comentário